Para começar, vou expor a vocês o sentimento de se sentir gordo. E sim, eu falei certo. É de se sentir gordo, pois não basta eu estar gorda, mas me sinto gorda.
Pode soar esquisito a você, mas pra mim não. Existe, sim, preconceito contra gordos e não é pouco, é muito. Eu estava conversando com meu terapeuta e ele conseguiu, em poucas palavras, resumir o que é se sentir gordo, na minha opinião.
É como cometer um crime! É entrar em um restaurante e achar que qualquer que seja o alimento que eu vá enfiar na boca é um tiro no peito de alguém. É como estar em uma balada e estar ocupando espaço de alguém ali, sou apenas mais um objeto a preencher o lugar. As pessoas não olham, e se olham, julgam. E pode parar de fazer essa cara feia, que eu sei que você está fazendo, porque as pessoas julgam sim. Podem não expor, mas julgam. E só EU sei o quanto julgam; os olhares e as atitudes dizem tudo.
Seguem fotos da fotógrafa Haley Mori Scafiero, clicando a si mesma em momentos comuns do dia a dia! O nome da matéria diz tudo: "O preconceito pode estar no seu olhar". http://plugcitarios.com/2013/03/o-preconceito-pode-estar-no-seu-olhar/
Principalmente nos dias de hoje, em que a vida saudável, corpo impecável e exercícios diários não são mais uma obrigação pela saúde, mas está na moda levar uma vida dessas.
Quando eu falo em "se sentir gordo" eu estou falando em auto estima. Existem gordinhas por aí que se aceitam como são e vivem a vida delas como qualquer outra pessoa. E não estão nem aí em comer uma sobremesa após a refeição, não estão nem aí em ir para uma balada e levar uma olhada reprovativa. Elas namoram, elas comem e elas se vestem como acham que devem, afinal, são elas que pagam as próprias contas.
Eu não posso negar o quanto essa exclusão social me incomoda! Quão duro é saber que as pessoas se importam, acima de muitas coisas, com a imagem! Julgam sem ao menos saber quem sou eu, qual é o meu nome, se eu sou saudável, que estudei em boas escolas e faculdade, que faço Pós Graduação, que trabalho em uma grande empresa, que sou inteligente, que gosto de escutar música (de ótimo e péssimo gosto), que gosto de rir, de fazer as pessoas rirem, que sou extrovertida, que sou divertida e que, muitas vezes, sou mais feliz que qualquer outro magrinho por aí! Não sabem que eu gosto de futebol e torço para o time que aprendi a torcer com o ex namorado, e não me envergonho em dizer isso. Não sabem que gosto de comer, mas não por ser gorda, e sim por sentir prazer em experimentar comidas saborosas (apesar de ser fresca). Não sabem o quanto eu me doo para as pessoas e tomo o problema delas como meus; seus problemas passam a ser mais importantes que os meus! Não sabem o quanto eu sou única! Atrás de tantos quilos existe eu, Juliana Jardim, um ser humano como outro qualquer. Todo o peso que carrego, não define meu caráter.
Com um simples olhar ou um comentário "inofensivo", as pessoas conseguem me transmitir tudo o que pensam e/ou acham a meu respeito. Claro que os mais próximos (e provavelmente os que me lêem aqui) me conhecem de outra forma. Os comentários e os olhares não me fuzilam, pois eles sabem das minhas qualidades.
Mas até mesmo amigos queridos conseguem escorregar! "Ju, você não tem uma amiga solteira para apresentar para meu amigo?". Por que essa pergunta sempre foi feita sem ao menos saberem do meu interesse? Até onde eu sei, todo mundo sabe que estou solteira.
"Seu rosto é lindo!" - Essa é uma das frases que eu mais escuto! E querem saber? Obrigada, mas FODA-SE! Porque a pessoa que me diz isso, não tem a mínima vontade em querer me agradar! Por que eu não posso SER uma pessoa bonita? E se quer me agradar, seja apenas simpático(a). Dizer que meu rosto é bonito só vai fazer com que eu me sinta pior do que já estou me sentindo. Então eu passo o elogio. Minha mãe pode fazer esse papel por você, obrigada!
To pegando pesado, né? Não! Não to não! Quero que você tente imaginar cada situação dessas que descrevi. Quero que você passe, pelo menos por alguns minutos, todas as vergonhas que já passei por carregar esse fardo. Quero que tentem entender o que eu passo e/ou sinto. E depois de tentarem sentir tudo o que um dia já passei e ainda passo, você imagine a Juliana, mas não me imagine como imagem. Pense em tudo o que você pensa a meu respeito, tudo o que eu significo pra você!
Pensou?!
Essa sou eu, que apesar de todas as qualidades, se sente em prisão perpétua por estar cometendo o maior crime social atualmente.